Beleza Fatal: a novela ‘farofada’ que a Globo tenta, mas não acerta mais
- Filipe Pereira
- 17 de fev.
- 3 min de leitura
Primeira novela do Max conta com clássicos das novelas das nove e marca o retorno de Camila Pitanga a produções do gênero

Após assistir aos dez primeiros episódios de Beleza Fatal, primeira novela produzida pela plataforma de streaming Max, é possível se entreter com uma “farofa das nove” com direito a Merchan social, Rio de Janeiro, fan service e vilã icônica. A novela de Raphael Montes (Bom Dia, Verônica e Suicidas) traz a clássica história da mocinha que busca vingança à la Avenida Brasil.
A trama acompanha a história de Sofia (Melissa Sampaio/Camila Queiroz), que busca vingança após sua mãe (Vanessa Giácomo) ser presa injustamente e morta por culpa de sua tia Lola (Camila Pitanga). Com suas histórias cruzadas, a mocinha é adotada por Elvira (Giovana Antonelli) e Lino Paixão (Augusto Madeira), dois golpistas de bom coração que perderam a filha, Rebeca (Fernanda Marques).
Com o enredo clássico de novela, a história inicia no passado, em meados dos anos 2010, quando conhecemos os primeiros personagens e o plano de fundo é criado. Já no fim da primeira semana (episódio 5), há o pulo temporal e o folhetim começa a se desenrolar na atualidade, dando início à trama principal.
Vale aqui fazer uma observação sobre o retorno de Camila Pitanga às novelas, no papel da vilã que o público gosta por seu jeito descontraído e descompensado. Sem muitas complexidades aparentes, Lola mostra o que quer e que não mede esforços para alcançar seus objetivos. Agora rica e dona de uma marca de estética, a personagem consegue misturar breguice com autenticidade e doses de digital influencer: a vilã clássica com toque de atualidade.
No entanto, as outras duas grandes atrizes que dividem a atenção com Pitanga não ficam para trás. Camila Queiroz consegue misturar a pouca idade de sua personagem com o amadurecimento que foi obrigada a passar, mostrando que, apesar de forte, Sofia ainda carrega muitos traumas.
Já a atuação de Giovana Antonelli é incrível de assistir: seja em suas presepadas com Lino ou com seu lado sério de mãe leoa, a atriz transita entre os contextos com naturalidade e consegue prender o telespectador em ambos os cenários. Um dos pontos fortes, que traz um respiro para a trama principal, é o arco dos Paixões, sem ser aquele núcleo periférico que só serve para comédia.
Talvez, pelo formato para streaming com apenas 40 capítulos, a novela não perca tempo com núcleos desnecessários e que não agregam fundamentalmente à história (alô, família de Jussara e Oberdan em Todas as Flores), o que deixa tudo mais fluido e pouco monótono, fazendo o telespectador permanecer na tela. Em um tempo em que as pessoas consomem séries de oito a 12 episódios, pensar em uma novela mais rápida é uma boa opção.
Algo que incomoda na novela, mas que é clássico do gênero, é a sorte da mocinha e a burrice dos vilões. Em vários momentos, é possível ver como a personagem principal esbanja uma sorte invejável para quem aposta na loteria, com soluções para tensões das quais qualquer outra pessoa normal não sairia tão facilmente. Na parte dos vilões, além de contar com a sorte, por acreditarem na impunidade, se tornam um tanto quanto burros, com algumas brechas que poderiam facilmente entregá-los.
A novela de Montes acerta nos Merchans sociais, que não forçam a barra e passam a mensagem que se propõem, como doação de órgãos, acesso de pessoas trans a cirurgias e uso indiscriminado de procedimentos e medicamentos. Além disso, um dos momentos viralizados nas redes foi a icônica frase de Bebel em Paraíso Tropical, refeita por sua intérprete.
Claro que, com um quarto da trama assistido, não é possível cravar um veredito sobre Beleza Fatal, afinal, não é incomum produções do gênero se perderem no meio da trama. Mas é válido dar um voto de confiança e ver o que os próximos capítulos retratam. Afinal, só por recriar uma novela das nove, com boa trama, vilã extravagante, ambientação clichê e parte social, a Max já saiu dez pontos à frente da Globo, que vem dando murro em ponta de faca na busca de emplacar uma novela boa no horário das nove.